Carta Nº 4

meu nome é carlos augusto migliaccio
tambem conhecido como migli, apelido que minha mae me deu.
hoje me encontro aqui, mutilado , traumatizado e viciado
e posso afirmar com 100% de certeza, que a culpa é do mundo
das crianças ruins, doas pais machistas, das instituiçoes abusadoras,
dessa guerra falsa as drogas.
hoje eu vi um casal passeando com o filho na frente da minha casa
e decidi acabar com isso tudo, pelo simples fato de que eu nao vejo futuro
nao me vejo casado, nao me vejo sendo pai, e tambem nao me vejo bem sozinho.
nao me vejo fazendo parte dessa sociedade que fez de tudo para me excluir.
dessa sociedade maldita que so da atençao a saude mental em setembro.
a parte tragica disso tudo, é que as mesma pessoas que me fuderam, estao nas redes sociais fingindo que se importam.
obrigado a minha mae que sempre tentou, e ao meu psicologo que fez tudo que pode.

admito que isso me acerto de um jeito delicado
eu jurei que conseguiria ajuda lo
ele viveu no inferno por muito tempo
eu temia que isso mataria ele por dentro

no inicio ele ainda tinha brilho no olhar
falava muito em mudar, crescer melhorar
ve a vida por outro lado, buscar novas experiencias
a tendencia era se encontrar

no final o discurso ja era outro
falava em concluir tudo nao em tentar de novo
falava que tava cansado
e eu conseguia sentir todo esse cansaço na voz dele

eu tentei tudo que tava ao meu alcance
propus tudo que eu encontrava
mas a real é que eu me vi em muita coisa que ele disse
isso me limitava
tipo que merda de mundo é esse
serio cara
é inacreditavel que alguem passe por 1 dessas coisas se quer
seja homem seja mulher, seja preto seja branco,
a depressao leva ao mesmo final
mas vem de todos os cantos.

como podem pais mae serem ausentes ao ponto de nao ver
o filho deprimido
ou pior como podem ser ausentes ao ponto de nao verem que seus filhos
deprimem os outros pra suprir seu vazio existencial
as vezes se ele tivesse sido aceito no ensino fundamental
ele nao teria vivido esse inferno astral

se as crianças da escola soubessem quem ele era por dentro
teriam se apaixonado por ele
um menino atencioso , carinhoso
mas so sabia demonstrar essas coisas do jeito dele

a merda do mundo criou o pai dele agressivo
ele chorava por nao ter forças, mas serio, quem teria?
como ele encontraria força se ele nem mesmo a conhecia
eu tentei mostrar que ele nao tinha culpa, mas nao conseguia.

quando me contou que tava cheirando, obvio que eu fiquei triste
mas eu sabia o por que
aquilo trazia a força que ele nunca teve
que o mundo nunca deixou ele ter

quando a mae dele me ligou chorando
na hora eu sabia q ele tinha se matado
e quando ela disse que tinham quatro cartas
eu ja sabia oq ele tinha anotado

as vezes eu me sinto amarrado
incapacitado
lida com esse assunto é delicado
a gente acha q o filme vai ter um final feliz
mas a real é q o roteiro é improvisado

entre a vida e a morte a depressao é so um elo
e so debatem isso no setembro amarelo
e mesmo so tendo um mes pra falar sobre depressao
eles escolheram falar sobre luisa e vitao

todo mes de jeneiro morre um migli
fevereiro tambem
março idem
abril mais 1
maio mais 3
junho mais 5
em julho mais 10
em agosto mais 20
em setembro falamos um pouco sobre
outubro esquecemos e morre mais 100
novembro eu ja nao consigo contar
dezembro é so o luto quando o ano novo vem

eu nao acho q depressao seja um problema pessoal
é um problema social
mas ngm tem tempo ou empatia pra ser parte dessa soluçao
acham que o mundo muda na internet com textao

ou vc é parte do problema ou da soluçao do mundo
a pergunta é
eu vou ter que ver mais quantos difuntos
ate vcs darem atençao pra essa porra desse assunto.

Ao longo da minha carreira as pessoas sempre trouxeram historias como a do migli pra mim, depressão, abuso, violencia e drogas
E com o passar dos anos eu fui vendo a necessidade de fazer esse projeto, saiba que você nao ta sozinho nessa, saiba que voce não esta sozinha nessa, sempre existe uma saida, e a arte é uma delas, sintase bem vindo.
Maldita grande midia nao ajudou em nada, e eu tive que pagar essa conta, sozinho.
Ate hoje eu me pergunto, Se vocês nao tivessem se aberto comigo e contado as histórias de vcs, definitivamente eu nao me encontraria aqui.