Majestade [25 Abril]
Talvez tenha sido a fome
De quem come o pão sem nome
Amassado p'lo diabo
Talvez tenha sido a fome
De quem come o pão sem nome
Amassado p'lo diabo
Mas eu quis colher a lua
Fui p'ra rua, quis ser sua
Só p'ra ser de algum lado
Mas eu quis colher a lua
Fui p'ra rua, quis ser sua
Só p'ra ser de algum lado
Por ser filha da pobreza
Da mesa sem sobremesa
Em que o travo é sempre azedo
Reconheço bem o traço
O embaraço e o cansaço
De vivеr sempre com medo
Talvеz tenha conseguido
Progredido, percorrido
O caminho acidentado
P'ra chegar aos tais salões
Dos brasões e das menções
Com o chão alcatifado
Vim do posso que padece
Que obedece e envelhece
Já curvado pela escassez
Recusei qualquer censor
Detentor, senhor feitor
Cultivei minha altivez
Talvez até vos pareça
De nascença e vos convença
Esta minha majestade
Talvez até vos pareça
De nascença e vos convença
Esta minha majestade
Porque mesmo na pobreza
Que a cabeça não se esqueça
De se erguer e com vontade
Porque mesmo na pobreza
Que a cabeça não se esqueça
De se erguer e com vontade
Porque mesmo na pobreza
Que a cabeça não se esqueça
De se erguer e com vontade