Toada Para Outro Tempo
Tem pra mais de vinte ano
Que sô peão daquela gente
Meu patrão é home direito
De alçada bem diferente
É gente simples, da antiga
Respeita e é respeitado
Sabe lidar co’as pessoa
Nem parece endinheirado
Enxerga o peão, ressollando
De tardezita, mateando
E, sem floreio, se achega
E lejos se vai proseando
E nas veiz que um taura erra
Com jeito, ele mostra o certo
É muy fácil ser campeiro
Co’este vaqueano por perto
Dá gosto andá nas tropilha
Que ele ajeitô pra peonada
Más que linda e bem pareia
É campêra a cavalhada
Não lhe agrada as correria
Diz que é só pra fazê enleio
É coisa que a gente intende
Quando apartemo em rodeio
Nos domingo salta cedo
E sai campeando a peonada
Sabê quem vai pras carrera
Pra lhe vê corrê a gateada
Paga umas canha com gosto
Sempre que apiamo na vila
Mas quem se enxaguá na estância
Não volta nem pr’uma esquila
Em outro tempo esta prosa
Foi costume de um rincão
Hoje é um naco do passado
Mudou peão, mudou patrão
Sei que ainda existe no pago
Gente de campo, campeira
Mas quase sempre a verdade
É escrita de outra maneira
Onde, o patrão é um povoeiro
Que mal apeia na estância
Sustenta, no mais, por luxo
Tem porque veio de herança
E o peão? Guri de arrabalde
Não sabe o que é ser campeiro
Nem gosta de andar pra fora
Vai por vir fácil o dinheiro
Dos dois emana o descaso
Com quem vive do outro lado
Garanto, não há um correto
Os dois caminham errado
E vão minguando os campeiros
Sejam peões, sejam os donos
O campo é quem paga o preço
Tocado pelo abandono