Terra Na Gaveta (a Milonga Vermelha)
Fumaça de bóia buena
Me invade as venta
Atucanando a cuscada
Tá beirando o meio-dia
E, que judiaria
Eu não largo a enxada
Os bicho, por serem bicho
Não sabem que há um dono
Pra bóia e pra terra
E que não sou eu
E a gente se desdobra
Minguando as sobras
Que a vida deu
E a pergunta que não cala é
Cadê, cadê, cadê o que é meu?
E a pergunta que não cala é
Cadê, cadê, cadê o que Deus me deu?
Responde quem pode mais
Um senhor capataz
Das valias do homem
Tu és vira-mundo
Peão vagabundo
Sem tino e sem nome
Que, de todas as estradas
Que vi pela frente
Escolhi pra minha gente
O caminho da fome
Porque eu não estudei pra profissão
Não economizei pra ter quinhão
Porque eu não votei num home bão
Tô pegando a estrada
Sigo a procissão
Hoje eu vou cantar
E o meu canto é santo
É um canto de reclamar
Eu sou dos que nada tem
Mas dividem também
A mesma herança terrunha
Por ser gaúcho de nome
Gaudério, sobrenome, excluído na alcunha
E a terra na gaveta tem ociosa valia
Só tem serventia debaixo das unha
Eu só sei o que a vida me ensinou
Eu só tenho o que a lida me pagou
Minha escolha a ganância cabresteou
Tô pegando a estrada
Rumo à vida eu vou