Sociedade dos Homens Invisíveis

Carlos Eduardo Taddeo

Pode me crucificar mas eu não acho justo
Um faminto e o outro com trinta carros de luxo
Pra uma classe salpicar ouro em pó no croissant
A outra tem que ser privada do café da manhã
O industrial só tem sua área vip na balada
Porque o mapa da fome é habitado por fantasmas
Porque no Poltergeist local andamos no talco
Que nos reduz a ficha criminais, atestados, corpos
Nervo óptico atrás da manta de aramida
Não vê Quixotes Christiane F. prostituída
Não vê os vultos com inclinações vocacionais
Violentados por merenda com coliformes fecais
Preocupados em pôr botões do pânico no pingente
No vibrador, na obturação do dente
Se quer se erguer a obra-prima da ignorância
Com vigilância contrata 70 mil mão brancas
Onde promotor não vai no banheiro sem guarda-costas
Pra não acabar afogado na própria bosta
Somos espectros que falam em código no Motorola
Que inventam álibis destroem testemunhas e provas
Que são taxados pela tabela de preço do inferno
200 Mil pro delegado rasgar o inquérito
As estatísticas dos corpos irreconhecíveis
São as coordenadas pra sociedade dos homens invisíveis

50 Mil mortes, 15 milhões de armas
É a latitude e longitude da sociedade fantasma
Dos homens invisíveis só são enxergados gritando
Deita filho da puta, não reage que é assalto
50 Mil mortes, 15 milhões de armas
É a latitude e longitude da sociedade fantasma
Dos homens invisíveis só são enxergados gritando
Deita filho da puta, não reage que é assalto

Sem poder medíunico apresento os fantasmas
Que sobrevivem com 70 reais per capitas
São forçados a se vestir de palhaço
Segurando seta de novo empreendimento imobiliário
Que deveriam estar na busca do google no vale do silício
Não pedalando pra entregar contigo
Quem disse que burguês não faz festa regada a cerveja
Com inscrições e farinha na bandeja
Tem uma rede comemorativa por cada Nissan
Vendido por nossas bandeiras tremuladas do amanhã
No forno crematório invisível só ganha vida
Assinando por extenso em ficha como latrocida
Bum, playboy, tomou no cu
Fantasma nada camarada se materializa de uru
É só a empregada lavar a calçada que o terror em Amityville
Entra em cartaz por uma hora em Alphaville
Repórter sequestrado em troca mensagem televisiva
É o recado de que pobre não é robô que respira
Dei inspiração de cenário cinematográfico
Usado pra lei Rouanet em prêmio em gramado
Personagem que o cuzão deprecia no stand-up
Fez a cidade de onde ele roda de McLaren
357 é o CEP dado por antropófagos insensíveis
Pra sociedade dos homens invisíveis

50 Mil mortes, 15 milhões de armas
É a latitude e longitude da sociedade fantasma
Dos homens invisíveis só são enxergados gritando
Deita filho da puta, não reage que é assalto
50 Mil mortes, 15 milhões de armas
É a latitude e longitude da sociedade fantasma
Dos homens invisíveis só são enxergados gritando
Deita filho da puta, não reage que é assalto

As armas nunca vão ser abaixadas
Num país que da bolo de fruta pra assassino de farda
Metralham o carro do mano que não tinha passagem
Aplausos do grã-fino, caixinha, homenagem
Aqui nem verifica a pupila o pulso
Deu entrada no PS já é defunto
A ordem do ministério da saúde é clara
Sem medicação pro invisível ferido a bala
País negrofóbico, pobrefóbico
Põe placas nas favelas como pra animais em zoológico
Em vez de desfavelizar colocam aviso
Área de risco pra proteger rico
Pedir pra Deus os milhares de AVC pra foder
Que assinam as vísceras expostas das classes D e E
Muito boy faz jus a punição da Somália
Ser enterrado até o pescoço e ter a cabeça apedrejada
Quem oferece febre tifoide e hepatite
Merece comer os próprios miolos misturados no Nesfit
Prometa pra si, que pra porra de um celular
Não vai deixar sua família de um médico escutar
Tamo tentando refazer o nariz, o céu da boca
Reza mãe, quando é fuzil a chance é pouca
Nossas fotos tem que estampar empresas e ministérios
Não grafites póstumos em muros de cemitérios
Chega de só através de nome em processo
Quem não recebe bom dia deixa a condição de espectro

50 Mil mortes, 15 milhões de armas
É a latitude e longitude da sociedade fantasma
Dos homens invisíveis só são enxergados gritando
Deita filho da puta, não reage que é assalto
50 Mil mortes, 15 milhões de armas
É a latitude e longitude da sociedade fantasma
Dos homens invisíveis só são enxergados gritando
Deita filho da puta, não reage que é assalto

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