A Onda

I. Malforea

E então
A bomba explodiu
No colo do mundo
Pra mostrar que a estrutura ruiu

Perseguição
Aos seus ideais
Pra mim a liberdade
Pra você, se não diz sim, tanto faz

Só querem falar
Mas nunca ouvir
O eleito inimigo
Nem deve existir
Todo pensamento
Passando num funil
E a sensatez então se cala
Como nunca existiu

Uma escolha
Pareceu tão banal
Satisfez a bolha, entreteve
E hoje se mostrou fatal

I can’t breathe
Um grito em Manaus
Soa justo, já que
Uma copa do mundo não se faz com hospital

Viver, trabalhar
Pra sobreviver
Sustentando o luxo
De quem não te vê
Chorar por quem ama
Num número vazio
Num saco fechado, numa vala
E sequer se despediu

A Onda
Também te engoliu
Seu ódio transbordando o cegou
E de pensar o impediu

Verdade
Não mora em você
Seu dedo aponta com a facilidade
Que antes já fez morrer

Palavras de ordem
Pré-fabricadas
E é apenas o outro
Que acompanha a manada
Obedeça à cartilha
Se encaixe no padrão
Nós somos os donos da verdade, da bondade e razão

Memória
Aqui nunca existiu
Repete-se a história se espantando
Com o que já se viu

Distorcer
Para arrebanhar
Se o fato não convence
O recriamos pra ter do que falar

Tanta hipocrisia
Cinismo e tudo mais
Bem mais que miopia
É o que a cegueira faz
Pura vaidade e sede de poder
O Blues do Covarde escancarado para quem quiser ver

Esperança
Para confortar
Um passo semi-invisível
Na dança do manipular

Ilusão
O bem contra o mal
O discurso limita a visão
E esconde: É tudo igual

Tudo o que os move
É a sede de poder
E quem por eles mata e morre
É só uma peça pra mover
O que você berra
Não é novo ou especial
Seus ídolos possuem pés de barro
E você é o lamaçal

Nós somos os donos da verdade, da bondade e razão
Seus ídolos possuem pés de barro e você é o lamaçal
Seu mundo não passa de ilusão

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