Ulisses
Fernando Pessoa / Mário Laginha
O mito é o nada que é tudo
O mesmo sol que abre os céus é
Um mito brilhante e mudo
O corpo morto de Deus
Vivo e desnudo.
Este que aqui aportou
Foi por não ser existindo
Sem existir nos bastou
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assima lenda se escorre
A entrar na realidade
E a fecundá-la recorre,
Em baixo, a vida,
Metade de nada,
Morre.