Saludo
Pouca coisa é tão gaúcha
Que se iguale a um saludo
Onde a sombra do chapéu
Se alumbra por um segundo
Nem a lonjura disfarça
Toda a franqueza do gesto
Como ao povo de campo
mas diferente pro resto
Cruzando o altar da pátria
O ato pede bolada
Ou mesmo por uma lida
Num rancho beira de estrada
Pra um homem duro de cerca
Até pra quem desconheço
Embora de mango em punho
Levanto a mão com apreço
Pra algum lindeiro de cerca
Até pra quem desconheço
Na refuga de algum boi
Que chama uma paleteada
A mão no ombro retrata
Quando a paleta é cruzada
Pra algum amadrinhador
Que ganha a vida no braço
É de valor o saludo
Que vem depois do abraço
Se acaso a sorte convida
Num truco mais que tenteado
Alguns merecem saludo
Pelos de bolsos pelados
A intenção do pulpeiro
Quando regala a rodada
É garantir o sustento
Bem antes da madrugada
Entre chegada e partida
Pra quem carrega a verdade
A extensão do saludo
É a extensão da saudade
Cada sorriso na cola
De um cuzco a sua maneira
Saluda todas as vezes
Como se fosse a primeira
Na refuga de algum boi
Que chama uma paleteada
A mão no ombro retrata
Quando a paleta é cruzada
Pra algum amadrinhador
Que ganha a vida no braço
É de valor o saludo
Que vem depois do abraço