Um mate de espera
Naquele dia até o sol nasceu mais tarde
E quando veio se escondeu no céu cinzento
A cuia quieta recostada na cambona
Pedia um mate com jujos do pensamento
Só mais um dia pra os que vivem nas estâncias
Dia de domas, rodeios e marcações
Um dia simples se consumindo aos poucos
Sem ser notado por quem vive nos galpões
Um cusco alegre brincava frente à varanda
Do galpão grande da estância, no lado norte
Ali o dia, começou junto dos galos
Mas teve fim em mais um pealo da morte
Se assusta o cusco, era quase meio dia
E aquele mate de manhã cedo cevado
Perde seu ninho, se encontra à terra fria
E um campeiro sem vida fica ao seu lado
Lá na capela, um pouco além da coxilha
No fim da tarde se ouviam rezas e cantos
E o simples dia ia vestindo seu luto
Para velar um campeiro em campo santo
Só uma cruz com duas datas timbradas
Para sombrear o descanso do campeiro
Que pra onde for amadrinhado por outra vida
Por ser gaúcho, por certo será posteiro
Como será a lida depois que a morte se agarra?
Donde se queda o rincão da eternidade?
Só o patrão velho sabe em qual pausa do mate
Pra nos chamar a conhecer essas verdades
É triste a ida pra os que ficam com saudade
Maior ainda se for pra não mais voltar
Mas algum dia vou eu rever quem se foi
E hei de vê-los com um mate pra me esperar