Carta de Um Contratado
Eu queria escrever-te uma carta amor
Uma carta que dissesse deste anseio
Deste anseio de te ver
Deste receio de te perder
Deste mais que bem querer que sinto
Deste mais que bem querer que sinto
Deste mal indefinido quе me perseguе
Desta saudade a que vivo todo entregue
Eu queria escrever-te uma carta amor
Eu queria escrever-te uma carta amor
Uma carta de confidências íntimas
Uma carta de lembranças de ti, de ti
Os teus lábios vermelhos como tacula
Dos teus cabelos negros como dilôa
Dos teus olhos doces como [?]
Dos teus seios de luz como maboque
Do teu andar de onça e dos teus carinhos
Maiores não encontrei por aí
Eu queria escrever-te uma carta amor
Que recordasse nossos dias
Nossos dias na capopa
Nossas noites perdidas no capim
Que recordasse a sombra
Que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
O luar que se coava das palmeiras sem fim
Que recordasse a loucura da nossa paixão
E a amargura da nossa separação
Eu queria escrever-te uma carta amor
Uma carta que ta levasse o vento que passa
Uma carta que os cajus e cafeeiros
Que as hienas e palancas
Que os jacarés e bagres
Pudessem entender
Para que o vento a perdesse no caminho
Os bichos e plantas
Compadecidos de nosso pungente sofrer
De canto em canto
De lamento em lamento
De farfalhar em farfalhar
Te levassem puras e quentes
As palavras ardentes
As palavras magoadas da minha carta
Que queria escrever-te amor
Mas ah meu amor, eu não sei compreender
Por que é, por que é, por que é, meu bem
Que tu não sabes ler
E eu, ó desespero, não sei escrever também
Não sei escrever também