O Vendedor de Purgante

Genival Lacerda

Já não aguento desse jeito como eu ando, só roendo
Esperando, minha vida melhorar
Buscando um jeito de encontrar quem me dê trato
Olha eu tô como sapato, sem saco pra caminhar

Quero um xamêgo, pois, a gente assim sozinho
Como feijão sem toucinho, não é bom de se viver
Tô precisando de um xamêgo
Sem demora nem que tenha catapora, sarabelo ou cachumbê

Quando eu me alembro de xandoca quelémente
Numa festa de aguardente, que eu fiquei meio chumbado
E nesse porre, ouve tanta brincadeira
Todo bêbado faz besteira, quando eu vi tava casado

Ganhei presente, ganhei cama e travesseiro
Lençol de linho estrangeiro, só fiquei desconfiado
Foi num emprego que eu ganhei de viajante
De um vendedor de purgante que só vivia avexado

O patrão dele, que é filho do delegado
Deu a ela a mesma coisa depois que ele foi casado
E o pobrezinho só vive coçando a testa
E o purgante da mulesta só fede a chifre queimado

Olha, veio uma nega que no outro dia me deu bola
Atrás dela eu fui pra xola, quando perguntei seu nome
Fez um muxôxô e disse, me chamo alberto
O meu tiro não foi certo, não é que a nega era um homem?

Saí de banda, fui pra porta do mercado
Me sentei meio chateado, na calçada da esquina
Veio um cabloco olha tipo atlético e parrudo
Me olhou fazendo estudo e me disse foi com voz fina

Tá triste nego? Isso é muito natural
Garanto que eu dou um jeito, tu vai ver que eu sou legal
Mas de repente, com a voz melosa e pastosa
Disse eu sou sandra rosa, a cigana do magal, meu bem

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