O Gaudério
Eu sou o naco de fumo girando no fio da faca
Sou o poncho, fui barraca, para maragato e chimango
Sou branco, ruivo ou mulato, duas misturas de raça
Sou o gosto da cachaça num trago bueno de fato
Sou um desses gaudérios de alguma alma penada
Sou passa tempo da indiada nos rodeios de domingo
Sou peão igual ao pingo e ao meio risco da vida
Que apostam a própria vida, tu me derruba, eu em vingo
Sou o tinir da roseta que esporeando o redomão
Sou o mangueiro, sou o galpão, casa grande de fazenda
Sou o vestido da prenda da donzela mais prendada
Sou o “s” de alguma adaga nos entreveros de venda
Sou afinação de viola nos dedo do tocador
Sou a alma do pajador junto ao calor do tição
Sou a cuia de chimarrão beijando lábios a fora
Sou o vermelho as aurora clareando no meu rincão
Sou o Rio Grande do Sul da peleia e da coxilha
Sou o soldado farroupilha que nunca teve quartel
Sou ruínas de São Miguel, redenção de Tiaraju
Sou o choro do pé de umbu pra alguma China qualquer
Sou a vertente da rocha da água meia azulada
Sou a marca no pó da estrada de uma carreta chorona
Sou teclado de cordeona, sou passo de chimarrita
Sou par da prenda bonita numa vanera marcada
Sou poeta, sou o vento, sou a lenda que persiste
Sou o homem que canta triste, sou o choro do pantanal
Sou o relincho do bagual, sou o guardião quero-quero
Eu fui talhado em pau ferro pra ser história imortal