Introdução
—Alô
—Poderia falar com o DJ Deco
—É ele
—Aqui é do canal que você tinha combinado de ceder uma entrevista. Pode ser agora?
—Pode, pode sim
—A respeito desse projeto envolvendo menores infratores da FEBEM, como surgiu isso?
—Na verdade, são ex-menores infratores, né. Esse envolvimento começou quando o Vila, empresário do grupo Jigaboo, do qual eu fazia parte, soube através de uma matéria de jornal que existia várias atividades pra molecada lá na FEBEM. Daí resolveu ir lá ver de perto e descobriu que os maninho lá gostavam bastante de rap, assim. Aí trouxe a ideia pro grupo, que na época era P.MC, o Suave e eu, pra gente ir lá e de repente até fazer um som com os mano lá
—Aí vocês entraram na FEBEM e tiveram contato com eles. Não é perigoso?
—Perigoso, como assim?
—O que a gente vê nos noticiários é que os meninos são muito violentos. Por isso, eu acho muito arriscado uma aproximação, você não acha?
—Não, não acho, não. E uma coisa que gente mais esclarecida, assim como você, deveria também entender é que eles não nasceram infratores; eles foram transformados em infratores. É, lógico que todos têm muita culpa naquilo que cometeram, não tô dizendo que não tem, mas não têm culpa sozinho. Porque não é qualquer um que tem estômago pra viver num lugar como esse aqui. Vendo na TV, por exemplo, as pessoas esnobando, jogando dinheiro pro alto e você zerado, não é fácil. Porque pra conseguir um emprego bom tem que ter um alto grau de estudo e pra poder ter um grau bom de estudo tem que pagar caro. Daí já começa os problema
—Ok. Bom, eu acho suas colações um tanto exageradas, porque eu também sou de uma família humilde, mas batalhei pra me formar. Isso quer dizer que o país oferece condições
—É, deve oferecer, sim. Agora, você é de uma família humilde, mas com condições de te sustentar até você se formar, né. Acho que vamo ter que classificar então de humilde "A", "B", "C", "D", porque eu vejo um problema terrível crescendo aqui: parece que o rico é que sabe o que é passar dificuldade, o branco é que sabe o que é ser discriminado por causa da cor e por aí vai
—Não seria mais justo investir em um grupo de menores não-infratores e deixar esses outros na responsabilidade do Estado?
—É, pode ser também. Mas eu acho muito melhor pra sociedade, muito melhor pra qualquer cidadão hoje em dia, encontrar com um desses caras aqui sabendo que ele é um integrante do Quadrilátero do que encontrar com ele do jeito que ele era antes
—E participações, tem alguma? Vocês convidaram alguém?
—Tem, tem várias. Tem vários de caras. Mas eu queria até mandar uma ideia antes de falar das participações, que é o seguinte: quando nós começamos a visitar os manos lá na FEBEM, a gente não imaginava que chegaria onde chegou. Ou seja, tem momentos que eles estão envolvidos aqui com a gente que era considerado irrecuperável, assim. E já faz... já se passaram quatro anos e tão aí na luta. Como diz o mano Dadá, que é um dos integrantes aqui do Quadrilátero, o único refém deles hoje é o microfone. E as participações: do P.MC, lógico (Quem teve lá, sangue bom, sabe que não é bom, nunca mais quer voltar); malucão Sabotage (Na Zona Sul, tipo louco); Afro-X, do 509-E (Pra sobreviver aqui tem que correr); família RZO (Vagabundo só, só); Elton e Paola (E você deve se lembrar); e uma participação, que infelizmente não vai estar no CD, mas que a gente acaba considerando estando pela humildade, pela boa vontade que o mano teve e que infelizmente por causa de um monte de problema que atravessaram aí não vai poder tá no disco, que é do Dexter, também do 509-E. A gente teve lá onde o mano se encontra. Lá o Edi Rock fez a base que seria a que o Dexter taria participando com os caras, mas um monte de outros problemas fora do nosso alcance atrapalharam e infelizmente essa música não vai estar no CD. Mas eu gostaria de mandar um salve pro mano em nome da rapaziada do Quadrilátero: aí, Dexter (Não esquenta que o resto é besteira, besteira, besteira)
—Muito obrigado pela entrevista e boa sorte
—Igualmente