4 Odes de Ricardo Reis

Fernando Pessoa

Não consentem os deuses mais que a vida
Tudo pois refusemos, que nos alce
A irrespiráveis píncaros
Perenes sem ter flores
Só de aceitar tenhamos a ciência
E, enquanto bate o sangue em nossas fontes
Nem se engelha connosco
O mesmo amor, duremos
Como vidros, às luzes transparentes
E deixando escorrer a chuva triste
Só mornos ao Sol quente
E reflectindo um pouco

Como se cada beijo
Fora de despedida
Minha Cloé, beijemo-nos, amando
Talvez que já nos toque
No ombro a mão, que chama
À barca que não vem senão vazia
E que no mesmo feixe
Ata o que mútuos fomos
E a alheia soma universal da vida

Esse ritmo das ninfas repetido
Quando sob o arvoredo
Batem o som da dança
Vós na alva praia relembrai, fazendo
Que escura a espuma deixa; vós, infantes
Que inda não tendes cura
De ter cura, responde
Ruidosa a roda, enquanto arqueia Apolo
Como um ramo alto, a curva azul que doura
E a perene maré
Flui, enchente ou vazante

Ponho na altiva mente o fixo esforço
Da altura, e à sorte deixo
E as suas leis, o verso
Que, quando é alto e régio o pensamento
Súbdita a frase o busca
E o escravo ritmo o serve

Trivia about the song 4 Odes de Ricardo Reis by João Villaret

Who composed the song “4 Odes de Ricardo Reis” by João Villaret?
The song “4 Odes de Ricardo Reis” by João Villaret was composed by Fernando Pessoa.

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