Pra Acender o Dia
Acendo o dia no galpão dos tempos,
Sorvendo a luz que o chimarrão conserva
Nos rios que correm pela bomba adentro
E a paz dos campos no verdor da erva...
Uma brasina velha e descarnada,
Berrando as mágoas e desesperanças,
Quer a terneira que pousou atada,
Nesse ritual de toda a vaca mansa...
Sento os arreios no gateado manso,
Aperto a cincha, calço a espora e monto.
Quem foi nascido pra não ter descanso
Tem sempre o laço e o cavalo pronto!
Saio pro campo a revisar o gado,
Curar bicheira, destrancar terneiro;
Costear os valos, sangas e banhados;
Coisas da lida deste peão campeiro!
Do que aprendi nessa vaqueana vida,
Muito se oculta na exceção da regra...
É feito a vaca que, recém parida,
Esconde a cria junto da macega!
Trago comigo algum mistério bruxo,
Pingo e cachorro, a querência e, enfim,
O atavismo de viver gaúcho
Que nunca mais há de fugir de mim!