A Ópera do Rinoceronte
Hoje ninguém me segura
Hoje mereço a mirra, o incenso, o alcalóide
Hoje tenho muito a comemorar
Não se espante, pois se em meus olhos, esse brilho estranho
Meio cobre, meio lágrima, meio qualquer nota
Começar a me fazer parecer mais jover
E fazer parar de cair cabelos
E me deixar com vontades de grito e canto
Não se espante, tampouco espante o espanto
É que hoje tenho muito a comemorar, hoje nada me segura
Nem o pudor de chorar em público
Nem essas tachas que os cristos usam
Nada, nada, nada
Hoje bebo em minha honra
Beijo do passado a lona e do presento os dentes
Beijo o futuro com seus lábios leporinos
E ainda lambo a língua
Hoje nem a pau, Juvenal
Hoje conheço meu tempo
Tempo de chão, de não, de alegria geral da nação
Tempo de pedra