Queda Livre

Alécks / menino thito / Tenaz

Com olhos fechados vou andando na calçada
Passa cada passo, vou amassando mais lata
Pisando em cacos de garrafas quebradas
Nessa madrugada eu já não temo mais nada


E quando eu for olhar e perceber onde nós tá
Não vou ter certeza se eu vou querer voltar
Pra como era antes, tá chovendo vamo entrar
Eu fico nas estantes esperando alguém levar


Esses dias ando muito avoado
Andando nas nuvens mas não saio do asfalto
Esses dias ando muito avoado
Pode me deixar mais alto


Mas quando eu for cair
É queda livre, é queda livre
Mas quando eu for cair
É queda livre, é queda livre


Correndo atrás do meu sonho, eu nunca canso
Afasto esses ganso, se manca
Banca de moleque rimando nesse beat jegue
Redação sem tema, novo lema da favela
Clima tenso


Um milhão da tele sena
Vem dinheiro, vem prazer, tudo armado pra você
Cifrão também mata, ilusão na mão dos mente fraca
Elegância no pé, correndo desses cuzão
De ferro na mão


Procurando por todo lado
Minha letra ainda tá naquela mesa no fundão da casa
Nada mais faço, pouco penso
Queimando um fino com ela, clima tenso


Às vezes penso se poderia mudar
No passado voltar
Muitas histórias ainda tenho pra contar


Era um corre, corte, fugindo da luz
Eu sinto, sinto muito
Escrevi uma carta pra mim mesmo
Através do inviável, infindável passado


Pois não havia início, era tudo recomeço
Fosse um beijo na boca, ou o barulho do tiro
Ha
Sem essa de sucrilhos


Ferro na mão de mais uma criança
Mais uma mãe sem esperança
Eu queria ter te escrito mais cartas
Banalizado o fato de você ser do alto e eu de baixo


Um raso papo na calçada e tudo era tão novo
Entre o sorriso e o medo
Vento percorria minha medula
Alma clareia


Joelho no chão antes de deitar ou antes de partir
Vi o inferno duas vezes no mesmo dia
Quando você chorou no meu ombro
E quando me deitaram no asfalto


Foi assim que comecei a lutar pra me manter vivo
Rimei pelo morro
Bebi o cantinho do vale mais escuro da adolescência
Essência do que é vida, esquina, amar, ser, representar


O arco-íris veio pra mim quando eu menos esperei num dilúvio patriarcal
Quando me pediram o RG, me apontaram o cano
Eu só pensava no irmão que foi, escorreu no concreto
A mãe que ajoelhou, suplicou
Sirene, chuva, barreiro, língua


Jesus olhou pra mim enquanto eu mentia pra mim mesmo sobre quem eu era
E eu menti pra mim mesmo esse tempo todo
Esse tempo todo


Salve pras irmã, pros irmão
Os que ficou, os que foi
Rap é liberdade, onírico, empírico
Compromisso

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