Milonga De Garras
A saudade ronda o peito
Feito um carancho a um cordeiro
Afia as garras morenas
Para um ataque certeiro
E a alma busca suas forças
Para salvar-se primeiro
Vôos de plumas serenam
Planando ao redor das casas
Saudade ganhou seus rumos
Descobriu que tinha asas
Ronda meus sonhos pequenos
Cordeiros recém-paridos
Brancos pra o agosto dos campos
Pra alma, desprotegidos
(Ovelha chamando a cria
Meus sonhos chamam também
Não sei por que minha sina
É ter saudades de alguém
E descobrir pelo tempo
Que não sei cuidá-las bem)
Chegam de manso, saudosas
Pra não serem descobertas
Mas um prenúncio de dor
Põe meu rebanho de alerta
Quem sabe o peito não tema
E a alma não reconheça
Mas a saudade tem garras
Mesmo que não se mereça
Quem sabe pelo verão
Depois da safra da esquila
A alma bem mais madura
Consiga andar tanqüila
E livrar-se dos caranchos
Rondadores de asas plenas
Que insistem com suas saudades
Feitas de garras morenas
(Ovelha chamando a cria
Meus sonhos chamam também
Não sei por que minha sina
É ter saudades de alguém
E descobrir pelo tempo
Que não sei cuidá-las bem)