Fantasias
Quem me vê nessas calçadas
Encolhido, nas portas do sonho
Molhado, rasgado e tempestade
O jeito de louco
Nos lábios, o riso maroto
Pensará, talvez apenas
Nas trombadas da vida
E dói-lhe o peito em saber
Que amanhã, serei notícia
E no entanto, na pressa
De qualquer compromisso
Deixará nas calçadas, encolhido
Nas portas do sonho, um amigo
Sou um pedaço de noite
Sem máscara, no dia
Sou beijo, o açoite
O desprezo, a agonia
Sou pedaço de chão, sem chão
Sou um bêbado louco
Na loucura da vida
Sou calçada suja, molhada e serena
Sou tua hipocrisia
Sou pra ela, a verdade
O exemplo, a bondade
Sou pra ele, o oposto
Dessa carcaça sem vida
Mesmo assim, ainda sou sombra
Nas ruelas perdidas
Sou a voz que não canta
Calando, ou faz sorrir
Sou moinho quebrado
Sou grito calado
Mendigo o teu beijo
O teu riso mal dado
Sou as aparências apenas
Do que sou, não ria
Cuidado, eu sou desertor
Te dou um conselho
Não me faças favor
Sou noite, sou dia
Sou verdade e fantasia
Sou novato, sou desgraçado
Sou poeta, sou cantor
Sou menino, sou doutor
Sou noite, sou dia
Sou verdade e fantasia
Sou novato, sou desgraçado
Sou poeta, sou cantor
Sou menino, sou doutor