Bílis Negra

Limpei os olhos, assinei o bilhete de despedida
Bati a porta, prometi levar uma nova vida
Na rua da saudade, não olhei pra trás
Vi no relógio e não era hora de voltar atrás

Tempo cinza me lembra um filme
Pela janela do ônibus vi minha vida num clipe
Escrevi um verso no verso duma folha amassada
Coloquei no bolso junto as frustrações passadas

Fui fogo sem calor, o coração encheu de calo
Se enganou quem pensou que meu espírito se calou
Peguei a estação que vai pra sanidade
Me mudei, meu novo endereço é a felicidade

Mandei embora todas minhas paranoias
Ficou só eu, minha música e uns planos de melhora
Tchau tristeza chora
O mundo é um moinho e eu preciso me encontrar igual Cartola

Lágrimas ao vento não comovem ninguém
Felicidade vai, o medo vem que nem trem
Eu sei que vai passar, mas agora não tô bem
Se a tristeza ameaçar, eu digo nem vem que não tem

Eu não tenho medo de sonhar
Eu não tenho medo de será
Eu não tenho medo de seguir
Eu não tenho medo de ser feliz

As vezes sou quarta-feira de cinzas
Vendo as alegrias indo embora igual em um samba na avenida
Eu tive medo e me escondi do mundo
Eu te vi morte e você é um quarto escuro

Quanta tristeza represa um coração?
Quantas lágrimas pra isso transbordar em depressão?
Com quanta solidão se faz um solitário?
Quando o melhor remédio é um abraço solidário?

A dor é tão grande mas a gente é tão pequeno
Ao mesmo tempo um Mundo dos Quem por dentro
Fechados na própria dor, veneno
Não tem Matrix quando a pior prisão é você mesmo

Entre a pílula vermelha e a pílula azul
Tomei fôlego e mandei a ansiedade pro
Passado, fiz do presente amuleto
Atingi o bom senso igual Tim Maia e o que eu quero é sossego

Lágrimas ao vento não comovem ninguém
Felicidade vai, o medo vem que nem trem
Eu sei que vai passar, mas agora não tô bem
Se a tristeza ameaçar, eu digo nem vem que não tem

Eu não tenho medo de sonhar
Eu não tenho medo de será
Eu não tenho medo de seguir
Eu não tenho medo de ser feliz

Pra tristeza esses tempos eu perdi feio
Quando acordei já não me enxergava no espelho
Quando levantei era tarde, acordando cedo
Noites sem dormir e ainda tive pesadelos

Assisti plateia não me aplaudir, amigos me esquecer
Vi o sonho dos meus pais se desfazer
Minha irmã e minha avó adoecer
Minha mãe se matando de trabalhar e eu só querendo morrer

Quantas pessoas machuquei, sem querer?
Quantas vezes eu me machuquei, por querer?
Sonhava com a música, e as coisa da facul pra fazer
De saco cheio de tudo, afastei quem me apoiou pra valer

Essa era pra ser motivacional, fracassei
Desculpa se te decepcionei
Fui até o fundo do poço e voltei
Se olhar no fundo dos meus olhos vai ver a tristeza em que eu mergulhei

Por um segundo pensei que o problema era o mundo
Foi então que eu resolvi ficar a parte do mundo
Tentando evitar não me conectar com todo mundo
Quando percebi que eu era parte do mundo

Eu sei, botei a culpa no mundo e não quis me desculpar
Isso tudo é sobre eu não conseguir me adaptar
Deus, esse não pode ser meu habitat
Mas a vida aqui não existe pra facilitar

Todo dia eu tenho que viver um sonho morto
Como aceitar viver em mundo torto?
Tenho que voltar pro espelho e me olhar de novo
Me amar mesmo com as rachaduras no meu corpo

Eu tô tentando, eu juro, tentando levantar da cama
Não é frescura, minha vontade de viver me engana
Por isso essa canção canto pra quem me ama
Nos dias mais nublados, minha música será bonança