Alameda do Éden, nº 9
Insalubre aquela morada.
Difícil crer na possibilidade
De alguém residir naquilo.
Deveria ter uns
Cento e cinquenta anos
Aquele muquifo,
Mas penso que não tivesse
Nem uns trinta.
Consistia numa habitação
Em péssimo estado
de depreciação avançada,
O cheiro de comida estragada,
Misturado com leite azedo,
Sendo aliado às fezes animais
Do quintal (jamais recolhidas)
E aos ovos podres na geladeira
Cuidadosamente imunda,
Davam um toque avomitado
Muito peculiar.
Sem falarmos do barracão
Anexado à construção,
Pavimentado com graxa negra,
Lubrificantes de motor
E toda a ordem de substâncias
Venenosas e funestas,
Que se podem encontrar
Em um meio ambiente.
Ao lado deste anexo
Jorrava uma nascente morta
E contaminada pelos detritos
Colecionados ali,
Pirâmides de tambores
Tóxicos se enfileiravam,
Escorados nos tapumes
De chapa enferrujada e tetânica.
O cortiço de imigrantes ilegais
E prostitutas que ficava a duas quadras dali,
Poderia ser considerado
Um hotel cinco estrelas
Com suítes presidenciais,
Se comparado àquele chiqueiro.
Três cães sarnentos, famintos
E enfiridados vigiavam os arredores internos
Dos muros, que circundavam a morada,
Os ratos tinham o tamanho de capivaras
e podiam ser avistados com a freqüência
que avistamos borboletas na primavera.
Mas borboletas não viviam naquela latrina.
Devido à radiação, elas só evoluíam
Até o estágio de larvas,
Servindo de alimento
Para os caramujos nocivos.