Covardia

Miro Saldanha

O sol do velho porto
Ainda cochilava.
E o vulto pequenino estava lá;
Pequenas mãos vazias;
Às vezes, cicatrizes;
E o brilho da inocëncia no olhar.
Corria no canteiro
E se olhava nos espelhos;
Pra ele, a vida abria no vermelho!
“Ôh tio, dá uma mueda!
piquena, podi sê!
Só pru meu pai não batê.”

E, no verde dos seus olhos,
Veio o verde do sinal;
E a vida continuou, na capital.
Afinal, quem liga
Se uma vida se profana?
O caso é tão comum na selva urbana!
É só mais uma covardia humana!

E o sol do velho porto
Deitou-se, em muitas tardes,
E o vulto do menino estava lá!
Mas mãos, uma pistola!
Corria no canteiro;
E todos o chamavam Sarará!
E, nas manhãs cinzentas,
Foi manchete de jornal:
"O Sarará matou na capital!"
E, em breve o povo, alegre,
Corria a comentar:
“Mataram o bandido Sarará!”

E o verde dos seus olhos
Se fechou, como o sinal;
E a vida continuou, na capital.
Afinal, quem liga
Se uma vida se profana?
O caso é tão comum na selva urbana!
É só mais uma covardia humana!

E o sol do velho porto
Deitou-se, àquela tarde,
E o corpo do menino estava lá!
E olhando em meu espelho,
No fim daquele dia,
Eu vi a minha própria covardia!

Trivia about the song Covardia by Miro Saldanha

When was the song “Covardia” released by Miro Saldanha?
The song Covardia was released in 2013, on the album “Mescla Latina”.

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