Confessionário
Confesso que às vezes eu me sinto mal
Não enxergo o plano espiritual
Vivendo a cobiça, o desejo carnal
Falando do bem e praticando o mal
Saio na madruga, um rolê com os mano
Vejo os verme fardado chegando
Eu dispararia se tivesse um cano
E deixaria a mãe de um homem chorando
E o mundo é verdade, que me mudou
É que uns crime eu não vi na tv
E a maldade em mim que se alojou
Porque o nosso choro, mano, ninguém vê
O enquadro é feito por um delinquente
Fazem de tudo pra entrar na mente
Não acham contigo um entorpecente
Te forjam com um, e pra lei você mente
Presságios de morte que eu vi se cumprir
Morri, é verdade, depois revivi
Palavras mataram, me reconstruí
Me fortifiquei, eu não quero cair
Eu lutei pra ser suficiente
Porque me fizeram pensar que eu não sou
Isso tudo de um querido ente
Que sem perceber na lama me jogou
Garrafas vazias, cheias de história
Muitas de caô e nenhuma de glória
Fumando cigarro o dia inteiro
Com o coração parecido a cinzeiro
Minha casa fedendo a cigarro
O meu odor que já é de maldade
E na mentira eu não mais me amarro
Eu sou refém das minhas verdades
Confesso que já pensei diferente
Toda vez que eu lembrava da gente
Achava que era inteligente
Mas essa vida só ferra com a gente
Vida maldita que só ilude
É tipo doença, eu não sou imune
Em busca da cura só fiz meu trajeto
Vivendo aqui, tipo um dejeto
E eu faço pelo certo, lutando pelo certo
Olha onde nós tá, tamo aqui de novo
Confessando para a morte um pensamento forte
Me sinto aprisionado dentro de um calabouço
Quero fugir mas não acho saída
Faço perguntas mesmo sem resposta
Gasparzinho querendo a vida
Disse pra ele que a vida é uma bosta
São vários que lotam a fila do SUS
São vários na quebra clamando Jesus
São vários que entram em desespero
Por não conseguir pagar nem a luz
Bagulho é foda e não é piada
Se fosse piada eu queimava era o circo
Porque assim que peguei a caneta
Vi que eu era o meu próprio risco
E o tempo tá passando, não sei o que fazer
Já olhei pra frente, mas deu tudo errado
A felicidade prometeu que nunca ia partir
Mas por ela fui abandonado
E deixado de lado, eu percebi
Que a vida em si, perdeu seu valor
Fechei os olhos, não havia cor
Apenas morte, sangue e dor
E a falta de trampo te torna incapaz
Eu já fumei cigarros demais
Estresse que abala, mente que abala
Confesso pra tu, só queria uma bala
Pra poder matar
Esse demônio que em sonho me segue
O inferno virou a terra truta
Então só faça sua prece
Deus olha por nós, mas nunca voltou
Minhas falhas que me caçam, estilo caçador
Vários que falaram, julgaram meu erro
Mas ae, filha da puta, quem nunca errou?
Não joguei a pedra e vários se exaltou
Mas se esqueceram só de dois detalhes
Que dessa vida não se leva nada
E que somos todos pecador
Já perdi as contas do quanto chorei
Das várias pessoas que eu quis o mal
A culpa das merdas que já pratiquei
Dos vários que me tacharam marginal
Só por tá na rua, dura realidade
Noites sem sono e dias que passam
Pessoas com fome, pessoas com frio
Drogas e noites que nunca acabam
Essa porra aqui não é Big Brother
Mas tem uma pá de cuzão espiando
Favela não pode mais dar um sorriso
Eles querem ver a gente chorando
Padre, essa confissão é conjunta
E mesmo não sendo religioso
Escute esse louco da periferia
Sou mais um favelado esperançoso
Nossa passagem aqui não é à toa
Cada um tem o seu objetivo
Mas fica difícil encontrar
Enquanto se preocupa em ficar vivo
Matam por nada, morrem por nada
Pow, pow, muito berro cantou
Tá explicado porque já passaram milhares
De anos e Ele não voltou
Sou morador e a cobrança é direito
Seria melhor se não precisasse
Pra eles é super normal
Fazer merda e deixar a favela num impasse
E eu me preocupo porque a cada ano
Visão do meu povo se iguala a um eclipse
Problemas atingem seu ápice
Mais um capítulo do Apocalipse
E eu juro que se eu tivesse as esferas
Pediria a paz mundial
Mas por enquanto só dá pra pensar
Em dizimar esse bando de animal
E eu juro também que preciso mudar
Antes que a morte venha me chamar
Que eu desça pra poder brigar com o demônio
Ou suba pra Deus pra poder confessar