Fazenda

Tu me dás vontade de berrar,
De guinchar, de latir pros bichos
Quanto que tu és angelical,
Relinchar, querer que me montes
Pr'eu trotar contigo no meu lombo
Pro chiqueiro e grunhirmos
Até que aprendamos a cantar.

Tu me dás o que é de comer,
De beber, prendes-me lá no curral e
Ficas a chicotear, me açoitar
Só pr'eu entender que tu és dona
Aqui do pasto e eu devo ser grato,
Permitir que me ordenhes,
Tires minha lã.

E embora não seja como eu quis
É como cuidas de mim.

Vez em quando tu me olhas bem,
Como quem, fosse dar carinho e
Me deixar em casa pra mimar,
Escovar, chamar de bichano.
Entretanto me aferes peso,
Côr, tamanho, depois vais pro
Banho e me deixas a zurrar.

Mas não vou me rebelar
Nem fugir nem te morder,
Pois tão linda senhorinha
É raro ter.
Me contento em te cheirar e,
Disfarçando, te lamber
Pra que tu te afeiçoes
E te esqueças de me abater.

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