Doce
Precisei ser doce
Uma dor de dente no ocidente
Na clave da espera
Aprendi as horas no relógio do orfanato
Na janela do aguardo
Meu último dia
Era meu décimo oitavo aniversário
Dancei, dancei com o fardo
Que me levou até a porta
Deixou de ser espera
E virou tempo esgotado
Hoje eu balanço na ternura e no ódio dos órfãos
No triste bordado do beijo deixado na boca dos abandonados
No sorriso raro de quem soube o que é nunca
No intimo da promessa de se buscar quando desce
Meu grande passo em direção ao amor
Sou eu me levando no braço
Pra onde ninguém me arranque
Pra onde ninguém me deixe
Se me blindo mais
Ou se me brindo mais
Me exibindo mais
Ou me inibindo mais
Rasgo e remendo o amor
Eu brilho no escuro
Escureço nas luzes
Livre da cadeia
Do orfanato dos adultos
Esse poema é a fiança da culpa dos inocentes