Poema de Bará

Roger Lima

Poema de Bará - Inverso Poeta - 7:05
poeta / declamador: Roger Lima
Música: Adagio em G Minor – Alninoni

O inverso da vida é a morte
e da morte é o tempo
e do tempo é a sorte
e da sorte o nada
e do nada o reverso
e o reverso é o fogo
e do fogo, o fogo Bará

São as incompletudes
é a luz relativa
das idas e vindas
das estradas perdidas
dos becos em outros becos
das encruzilhadas em outras cruzas
das dores em mais e mais dores e mais dores
e do leite, mais leite
de somas alegrias
em noites, e mais noites vividas
e em todas elas madrugadas, fantasias

São os lados incertos
de outros incertos, certos
é o Sol do quadrante
da ponta do sul, no desespero do meio
são os poetas, vestido de preto
e mais brancos em outros negros poetas
nascendo brancos, negros, mulatos, escravos do escárnio.
É o silêncio do vento
é o silêncio das folhas
é o silêncio profano
é a noite que esfria
pomba giras e exús
em tez e sem rugas
sem céus, estrelas e lua.
É a garrafa vazia
em cima da mesa
é a lamparina sem óleo
é o terno preto
em outros ternos brancos
é o charuto apagado
é o copo vazio em salivas
e desta, um gole de outros
goles, salivas
descendo, molhando a garganta,
outros goles de mais outros,
e de outras secas gargantas
de secas, securas.
É a pomba gira que chega
tentando aquecer
é o vestido vermelho
que também se procura
que também não se acha,
mas que se perfuma
e que outra vez se procura
e que outra vez não se acha
como uma rosa vermelha
bem dentre aos seios espelhos,
e defronte ao rúbio corpo

São as curvas mandingas,
de mandingas faceiras,
de faceira que seduz
e como seduz...
é o tom de vermelho
no freguês que partiu.
É o desejo na dança
encantando a sombra,
que dos brancos cigarros
movimentam as saias
de outras saias vestidos, bailando ao derredor.
De outros vestidos abertos
e de cortes para outros seios despertos em outros recortes desnudos, surgindo um corpo entre outros corpos nus.

É o contorno libido de contornos perfumes,
é o perfume da noite,
da noite as belezas
das giras que brilham nos terreiros no calor da fogueira,
na escultura do fogo Bará

E assim é,
e assim continua,
pois em todas as noites têm um santo e em todo santo tem um pecado
todo pecado tem um refrão
todo refrão tem um tom
e de tom em tom
nasce uma canção, uma oração.
Por aqui, é o redimido,
é o morrido encarnado lá.
É a palha da costa
na corrente do tempo
criando negreiros
vindos do toco
vindos da cruz
da terra esperança
do couro africano
das mãos calejadas
e em ferramentas
um velho
e ao mesmo tempo velho
novo velho, Orixá.

É sim... É o lamento Bará
na composição é a vida
da vida, outras vidas
ambas e todas excluídas
pelas palmas, palmares
em jesuítas mãos,
de novas mãos, calvários.
Será o orvalho do dia
a ferida que jaz, sentida
e esquecida,
é o fim do começo
é o começo do nada
por aqui, do nada é o todo
e do todo, é vida.
É o canto que canta e
em gemidos encantam
o solo esquecido
e assim redivivo
em outros tempos acordados
é a esperança do cá
que reencarnou lá
é a nova esperança,
a esperança acolá.
Tudo isso, tudo isso não se explica na poesia da vida de Elegbará, mas do inverso esquecido já se tem nascido,
e ao mesmo tempo esquecido
as vidas em outras vidas,
formando mais novas vidas
em encantos Bará.

Layroê Exú... Eh Laroyê

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