Partida (poema)
Partida
Partida é uma palavra com efeito de palíndroma sem o ser. Que liga o início ao fim e o fim ao início. O antes ao depois em ambas as direções. A partida é o ponto de onde se parte, onde se começa. Partida é a saída, momento da despedida. Uma porta giratória cujo eixo variável se ancora nos verbos ir e vir. Com ou sem rumo, com ou sem certezas de que quem parte poderá alguma vez chegar. Mas partindo do pressuposto de que partir é, não só, vir de algum lado como ir p'ra algum lado. Um pé no passado е outro no provir. Significa isto que partir, que também significa quebrar, fragmеntar, despedaçar, tem sempre a ver com algum tipo de separação. Dizer à partida é já desconfiar. Introduzir a possibilidade da exceção à regra. Até porque para além jogo, competição ou match, partida é também uma brincadeira que normalmente pretende enganar a pessoa a quem se destina. Pregar uma partida a alguém pode ser pregar-lhe um susto, fazer-lhe uma rasteira ou contar-lhe uma mentira. Iludi-la de alguma forma, às vezes p'ra fazer troça. A palavra partida prega-nos partidas no seu estilhaçar de significados, mas mantém-nos junto da ideia de unidade, não só pela sua proximidade com a origem, o ponto de partida, mas também pela assunção de que para algo se partir antes deveria estar intacto. Ou talvez não seja assim. Talvez a partida como começo seja afinal a partida derradeira, o ponteiro para a ideia de que nada é inteiro nem no princípio