Poesia Pagã
Sobre o anjo que caiu e não mais levantou
Eu tenho a certeza de que sou como ele
Já não mais vejo tua pele como a flor
Já sou o vinho tinto que se derramou
Sobre as palavras que embebedam sua religião
Saem de minha boca já as razões para o ódio
Cortando o fluxo sangüíneo que te banha
Enlameando o chão para onde procuro a escuridão
Sem saber que não existe mais razão
Fecham-se as cortinas do espetáculo
Os atores sem fantasias de carnaval
Sem saber que não existe mais coração
Gritem aos anjos - Se eles ouvirem
Cortem seus pulsos - Se desistirem
E alimente-me
Sobre as paredes de minha cela que desabou
Tento segura-las ainda acima de meus ombros
Já fui o cálice que "esbordou" de ódio
Já tive em meu poder a verdade que me desapontou
Sem saber que não existe mais hierarquização
Enquanto deus almoça no paraíso
As criaturas perdem seu juízo
E alimentam-me
"E nossos sonhos serão inférteis
E nossos sonhos serão inerteis."
E meu grito para o ar desistiu de ser tão alto
Sangrou sem poder voar com as assas de um incauto
Tristes foram então as verdades descobertas
O corpo morto no chão
Oceanos de figuras incertas
Percam-se nas fábulas, destruam o sacro e alimente-me