Ozônio

Leo Ventura

Sente o cheiro do que há por vir
Traços vagos de alguém que diz
Devaneios numa noite imersa de conhaque e gim


Restos soltos de você e eu
Feito peças velhas no museu
E um clima de cinema mudo muda tudo mesmo assim


Sinto que não vou estar onde combinamos


Céu de brigadeiro com nuvens de cetim
Um quadro torto meio assim
Num deja vu, tudo que ficou pra trás
Parece não caber em mim


Nomes falsos de você e eu
Desde o dia em que se prometeu
Secam anos numa casca morta de floresta em mim


Segue o risco feito pelo giz
Linha efêmera no existir
Desenhando a calçada fosca quase tosca, rota enfim


Sinto que não vão durar aonde combinamos


Céu de brigadeiro com nuvens de cetim
Um quadro torto meio assim
Num deja vu, tudo que ficou pra trás
Parece não caber em mim


Só o tempo de mentir e de entender que as dores são
Quase sempre a dor em si, e qualquer coisa a mais
Que se presta vai nas frestas que nos restam

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