Dança, Morena (part. Estrela Leminski)
Andei na beira, à toa, desse precipício
Que é teu pescoço, cheiro bom de emaranhar
Nos teus cabelos me perdi caí no vício
De não caber num corpo sem me espalhar
Ao teu redor esse teu fogo é quem me chama
Me desengana, faz de mim seu piancó
Sou cavaleiro, mas me domaste primeiro
E nos teus braços vi minha vida virar pó
Dança morena
Dança pequena
Lança teu feitiço pelo ar
Dança morena
Dança pequena
Que hoje a noite inteira sou teu par
Feliz daquele que os seus atos pauta
Dentro dos dons da vida que o rodeia
E acha o leito macio e a mesa lauta
Na indiferença da fortuna alheia
Feliz de quem, da vida para a morte
Embora pobre, de pobreza triste
Se contenta, afinal, com a própria sorte
Se há ventura no mundo, essa consiste
Talvez, em suportar, de ânimo forte
A renúncia de um bem que não existe