Mulheres, apenas
Elas sempre carregam no rosto
um sorriso brejeiro, matreiro,
elas fazem do andar um aviso
que a noite é uma ceia, tão cheia,
elas vivem vestidas de mantas
e tantas miçangas e coisas banais
e os homens ao vê-las cochicham
capricham, se arrumam e vão logo atrás.
Seus ouvidos escutam primeiro
as notícias que o mundo amanhã vai saber
e os amigos, amantes antigos,
sustentam seus modos estranhos de ser
elas fazem de um caso a tragédia
e a comédia começa no incauto freguês
elas sabem que dia após dia
é preciso tentar outra vez.
As meretrizes, as infelizes
carregam por dentro sorrisos dolentes,
doentes e nervos de herói
as tais Marias, moças sombrias
suportam em seus mundos bandidos,
falidos, gatunos e tudo lhes dói.
Já passaram por elas escravos
e tantos feitores, senhores,
conhecem calçadas e foram
amadas por tantos doutores,
escutaram promessas, guardaram
ofensas, tão quietas, pasmadas,
os seus olhos cansados,
sofreram cerrados, sem prantos, calados.
Atentai, pois, pras vidas que levam
as moças Marias, perdidas,
aceitai suas falhas, não armem
suas malhas e nem armadilhas,
elas fazem pecado, o amor desbotado,
um serviço que têm que fazer
elas sabem que dias após dia
é preciso lutar pra viver.
As diretrizes, das infelizes
são rosas dos ventos que a calma
dos tempos transforma e consome.
Tais Marias, moças sombrias
suportam em seus mundos
bandidos, falidos, gatunos
e tudo lhes dói.