O Testamento da Mariquinhas

Dr. Lopes Víctor

A Mariquinhas p´rós céus
Partiu sem as tamanquinhas
Deixou a guitarra a Deus
E à moirama as tabuinhas
Caiu chuva, fortemente,
Num beco da Mouraria
D´onde o Sol, por ironia,
Também quiz estar ausente.
Dos lábios de tanta gente
Crente, e mesmo os ateus,
Encomendaram a Deus
A alma da pecadora
E lá foi, naquela hora,
A Mariquinhas p´rós céus

Fazer milagre, quiz Deus,
Em trazer ao funeral
Um escol fenomenal
D´alguns nobres e plebeus.
O Conde; o Roque; o Mateus;
O Custódia e o Ginguinhas,
Choraram a Mariquinhas
Essa figura lendária,
Que à procura da Cesária
Partiu sem as tamanquinhas

E a Cigarra cantadeira
Não fará mais gorgeios,
Gorgeando os seu anseios
No fado à sua maneira.
Na Rua da Amendoeira
Andam jám os fariseus
A pregar, feitos judeus,
Com fingido sentimento
Que ela, no testamento,
Deixou a guitarra a Deus

No cofre, já tão falado,
Ficaram as rendas finas,
Muitos laços, as cortinas,
E um lençol todo bordado
E tudo foi averbado,
P´ra deixar às mais velhinhas,
No fado velhas rainhas
Que lá viram exarado:
Eu deixo o meu chaile ao fado
E à moirama as tabuinhas.

Trivia about the song O Testamento da Mariquinhas by Alfredo Marceneiro

Who composed the song “O Testamento da Mariquinhas” by Alfredo Marceneiro?
The song “O Testamento da Mariquinhas” by Alfredo Marceneiro was composed by Dr. Lopes Víctor.

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