Água Benta
[Verso 1]
A água benta que batizou
Contaminou o bebê
A medicina e o seu doutor
Nada puderam fazer
O desespero se apoderou
Do padre, do pai, da mãe
Foi quando então alguém se lembrou
De um feiticeiro de Ossãin
Um simples banho de folhas fez
O que não se esperava mais
[Refrão 1]
Depois, depois muitos muitos anos depois
Rapaz, aquele menino já então rapaz
Se fez um rei entre os grandes babalaôs
Dos tais, dos tais como já não se fazem mais
[Verso 2]
A água benta que ao bel prazer
Se desmagnetizou
Desconectada do seu poder
Por um capricho do amor
Amor condutor do élan vital
Que o chinês chama de ch’i
Que Dom Juan chama de nagual
Que não circulava ali
Ali na grã pia batismal
O amor deixara de fluir
[Refrão 2]
Talvez por mero defeito na ligação
Sutil entre a essência e a representação
Verbal que tem que fazer todo coração
Mortal ao balbuciar sua oração
[Verso 3]
A água benta que o bom cristão
Contaminou sem querer
A fonte suja que o sacristão
Utilizou sem saber
A força neutra que move a mão
Do assassino o punhal
E o bisturi do cirurgião
O todo total do Tao
Lâmina quântica do querer
Que o feiticeiro sabe ler
[Outro]
Fractal
De olho na fresta da imensidão
Sinal
Do mistério na cauda do pavão
Igual
Ao mistério na juba do leão
Igual
Ao mistério na presa do narval