O Trem

Gonzaguinha

Uma prece a quem passa, rosto ereto
Passo certo, olhar reto pela
Vida, amém!
Uma prece, uma graça, ao dinheiro recebido
Companheiro, lado amigo, amém!
Uma prece, um louvor ao esperto enganador
Pela espreita e a colheita, amém!

Eia! E vai o trem num sobe serra, desce serra, nessa terra
Vai carregado de esperança, amor, verdade e outros "ades"
Tantos males, pra onde vai?
Quem quer saber?
Sem memória e sem destino
Eu ergo o braço cego ao sol
De mundo meu, meu só
Me reflito, o pé descalço, a mão de lixa
A roupa rota, o sujo, o pó, o pó, o pó

Morte ao gesto de uma fome
- É mentira!
Morte ao grito de injustiça
- É mentira!
Viva em vera igualdade: O valor

Eia! E vai o trem num sobe serra
Desce serra, nessa terra
Vai carregado de esperança, amor
Verdade e outros "ades"
Tantos males, pra onde vai?
Quem quer saber?

Sob as luzes da cidade há cor alegre
Há festa e a vida ri sem fim
Nem meu dedo esticado traz um
Pouco o gosto
O doce, o mel pra mim, pra mim

Viva o tempo sorridente que me abraça!
Viva o copo de aguardente que me abraça!
Morte ao trabalhador sem valor!

Eia! E vai o trem num sobe serra, desce serra, nessa terra
Vai carregado de esperança, amor, verdade e outros "ades"
Tantos males, pra onde vai?
Quem quer saber?
Uma prece, um pedido
Um desejo concedido a você na omissão, amém!
Uma prece, uma graça
Pelo pranto sem espanto e a saudade consentida, amém!

Uma prece, um louvor, a Deus, não contra o vento
Na partida desse trem, amém

Eia! E vai o trem num sobe serra e desce serra, nessa terra
Vai carregado de esperança, amor, verdade e outros "ades"
Tantos males, pra onde vai?
Quem quer saber?

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