Escolta de Vagalumes / Porta do Mundo / Poeira da Estrada
Voltando pra minha terra eu renasci
Nos anos que fiquei distante acho que morri
Morri de saudade dos pais irmãos e companheiros
Que ao cair da tarde no velho terreiro
Agente cantava as mais lindas canções
Viola afinada e na voz dueto perfeito
Longe eu não cantava doía meu peito
Na cidade grande só tive ilusões
Mas voltei, mas voltei, eu voltei
E ao passar a porteira a mata e o perfume
Eu fui escoltado pelos vaga-lumes
Pois era uma linda noite de luar
Mas chorei, mas chorei, eu chorei
Ao ver meus pais meus irmãos vindo ao meu encontro
A felicidade misturou meu pranto
Com o orvalho da noite deste meu lugar
O som da viola bateu no meu peito
E dou meu irmão
Assim eu me fiz cantador
Sem nenhum professor aprendi a lição
São coisas divinas do mundo
Que vêm num segundo a sorte mudar
Trazendo pra dentro da gente
As coisas que a mente vai longe buscar
Meu destino é o calendário
O meu dicionário é a inspiração
A porta do mundo é aberta
Minha alma desperta buscando a canção
Com minha viola no peito
Meus versos são feitos pro mundo cantar
É a luta de um velho talento
Menino por dentro sem nunca cansar
Levantei a tampa, voltei ao passado
Meu mundo guardado dentro de um baú
Encontrei no fundo todo empoeirado
O meu velho laço bom de couro cru
Me vi no arreio do meu alazão
Berrante na mão no meio da boiada
Abracei o laço, velho companheiro
Bateu a saudade, veio o desespero
Sentindo o cheiro da poeira da estrada
Estrada que era vermelha de terra
E o progresso trouxe o asfalto e cobriu
Estrada que hoje chama rodovia
Estrada onde um dia meu sonho seguiu
Estrada que antes era boiadeira
Estrada de poeira, de sol, chuva e frio
Estrada ainda resta um pequeno pedaço
A poeira do laço que ainda não saiu