Testamento
Você que só ganha pra juntar
O que é que há?
Diz pra mim, o que é que há?
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar
Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão
É fogo, irmão
(Pois é amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo)
(E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão)
(Pensando à beça que não levou, nada do que juntou, só seu terno de cerimônia)
(Que fossa hein meu chapa, que fossa)
Você que não para pra pensar
Que o tempo é curto e não para de passar
Você vai ver um dia,
Que remorso, como é bom parar
Ver o sol se pôr
Ou ver o sol raiar
E desligar e desligar
(Mas você, que esperança
Bolsa, títulos, capital de giro
Public relations, e tome gravata
Protocolos, comendas, caviar, champanhe
E tome gravata)
(O amor sem paixão, o corpo sem alma
O pensamento sem espírito
E tome gravata
E lá um belo dia, o enfarte
Ou pior ainda, o psiquiatra)
Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não
(Você, por exemplo que está aí com a boneca do seu lado
Linda e chiquérrima
Crente que é o amo e senhor do material)
(E é ai que o distinto está muitíssimo enganado
No mais das vezes ela anda longe
Perdida num mundo lírico e confuso
Cheio de canções, aventura e magia
E você nem sequer toca a sua alma
É, as mulheres são muito estranhas
Muito estranhas)
Você que não gosta de gostar
Pra não sofrer, não sorrir e não chorar
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar
Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão
É fogo, irmão
(Obrigado, Bial, por ter vindo gravar esse samba comigo)
(Saravá, Bial)
(Saravá, Toquinho, que maravilha esse convite!)
(Saravá, Vinicius!)